domingo, 27 de fevereiro de 2011

Entrevista com Rodrigo Santos para o blog TOSEMBANDA.

Só pra relembrar...

Entrevista Rodrigo Santos
Foto: Washington Possato

  O músico Rodrigo Santos está lançando este ano seu primeiro trabalho solo, mas você já pode conhecer um pouco no site www.rodsantos.com.br


TSB: Pra começar, quem é Rodrigo Santos?

RS: Um musico que tem a sorte de ter sempre tocado com quem gosta e trabalhado com a alma. Comecei a tocar com uns 10 anos e não parei mais.

TSB: Você teve uma influência muito grande da sua família na tua formação musical. Conte-nos como isto aconteceu.
RS: Na verdade, nem meu pai , nem minha mãe, nem meus irmãos mais velhos tocavam algum instrumento ou tiveram contato com a musica, mas digo que meus irmãos foram influencia por serem 4,5 anos mais velhos e na década de 70, andarem com a galera do surf e da musica , que era um gueto só.Então eu tinha acesso aos discos de rock que essa rapaziada ouvia. E pedia pra todos os amigos deles que tocavam violão, me ensinar alguma coisa, enchia o saco mesmo,´pois eu era muito interessado.    Stones,Beatles,Bob Dylan, Peter Frampton,Pink Floyd, Yes, Gênesis, Led Zeppellin, Wishbone Ash, Lynyrd Skynyrd, Crosby,Stills and Nash, Neil Young e America. Meu pai escutava todos os discos de Jazz e Blues.Alem de orquestras e trilhas de cinema. Tinha muito Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Count Basie, Bill Halley e Elvis Presley. Minha tia conhecia os Novos Baianos e essa foi uma das minhas influencias. Meus outros tios tinham um coral, que eu assistia meus pais se aventurarem uma vez ou outra, entremeadas por aulas de historia do Jazz que meu pai ensinava por hobby. Meu primeiro contato com violão, foi aula com a minha Tia Clarisse. Eu e meu primo Pedro Henrique, não só aprendemos a tocar, como começamos a compor. Aprendíamos tudo de Bob Dylan e Beatles.

TSB: Suas primeiras influências foram de muitas bandas de progressivo, estas bandas ainda te influenciam?
RS: Tive influencias de Pink Floyd, Yes, Emerson ,Lake & Palmer realmente, mas a maior influencia sempre foi Beatles e Bob Dylan. Mas é obvio que escuto o Dark Side Of the Moon e o Close to the Edge, assim como Animals, The Wall e Yes Álbum, até hoje. Cris Squire ( Yes) foi uma grande influencia como baixista com certeza, assim como Roger Waters ( Floyd) e Paul McCartney .Mas as canções mesmo, Beatles , Bob Dylan, Cat Stevens, James Taylor, Crosby,Stills,Nash & Young e América foram as grandes influencias internacionais. No Brasil, Caetano, Secos e Molhados, Novos Baianos, Gil, Chico, A Cor do Som, Pepeu Gomes e Rita Lee e Raul Seixas, me cativaram.

TSB: Com apenas 11 anos e depois de já ter assistido tanto a shows e ensaios dos Mutantes você já estava na TV apresentando uma canção própria composta para a sua irmã. Tente descrever o que se passava na cabeça de um garoto de apenas 11 anos vivendo tudo aquilo?
RS: Foi realmente rápido. O Zuenir Ventura que me indicou pra Paula Saldanha que fazia o programa Globo Cor Especial, exibido todas as tardes da semana. Eu e meu primo tocamos 2 composições nossas. Anna foi feita pra minha irmã e pretendo grava-la um dia. “Na minha cabeça não passava....só, só , somente só...assim vou lhe chamar, assim você vai ver..” Apenas sonhos....de ter uma banda como os Beatles ( pequenos não?)

TSB: Logo depois, foi formado o Choque Geral. O que houve que o disco não saiu? Ainda existe esta master?
RS: Não saiu porque éramos garotos, era muito mais difícil do que hoje em dia, e cada um foi para um lado, tendo a banda terminado. A máster existe e está em algum lugar das minhas varias mudanças que não encontro, mas daqui a pouco vou digitaliza-la.

TSB: E o Rodrigo Santos jogador de futebol? Você se considerava um bom canhoto, pq não deu certo o teste no América? Você largaria a música na ocasião pelo futebol?
RS: O teste deu certo sim, passei. Largaria qualquer coisa pra jogar, principalmente porque o Flamengo de Zico, Adílio e Junior me transmitia a mesma magia que os Beatles, Zico era John Lennon ! Mas era muito tímido pra encarar aquela batalha com a idade que eu tinha. Jogar sim, mas por profissão era diferente.Era um outro mundo e eu me sentia muito mais à vontade na musica e no desenho.

TSB: Você chegou a tocar em uma banda com o agora ator Marcelo Serrado e tinha o Front como principal banda concorrente. Como era esta concorrência na época? E como você foi parar no concorrente, no caso no Front?
RS: O Prisma, banda com Marcelo e João Guilherme ( hoje lançando o livro e filme “Meu nome não é Jonny) tinha o publico mais seleto e bonito do Rio de Janeiro, éramos imbatíveis e acho que só perdíamos para A Cor do Som, do meu amigo Dadi. Mas éramos muito imaturos musicalmente e ninguém queria porra nenhuma, alem de tocar em festas, etc. O Front já tinha um respeito do meio musical, tinha o Ricardinho que era irmão do Dé (ex-Barão) e uma bagagem de abrir shows de bandas grandes na época. O Kadu era o batera do Front e o Nani o guitarrista. Kadu já tinha tocado comigo no Choque Geral e me chamou pra entrar na banda.Na verdade, um pouco antes, eu já estava sem o Prisma e vi o Kadu tocando com Cinema a Dois na famosa Mamão com Açúcar e depois do show pedi pra ele me indicar pra alguém, aí o pessoal do Eletrodomésticos estava procurando baixista e eu entrei na banda. Logo em seguida Kadu me chamou pra tocar com os Miquinhos também e daí veio o Leo Jaime. No Front, entrei como baixista no lugar do Bruno Araújo ( Eletrodomésticos, Cinema a Dois, ex-Lobão e Legião que na época tinha ido para os Estados Unidos estudar contrabaixo),  que hoje em dia me emprestou o estúdio dele pra fazer uma parte do meu disco solo. Foi essa viagem dele que me abriu as portas do meio musical, pois desde lá não parei nunca mais. Aí, alguns meses depois e vários programas de TV, o vocalista Beto saiu e eu assumi os vocais do Front. Gravamos um compacto pela CBS e logo depois fomos todos excursionar com Leo Jaime.

TSB: O Front também foi uma espécie de banda de acompanhamento de artistas estourados na época como o João Penca e o Léo Jaime. O público sabia diferenciar na época e distinguir o Front banda principal deste Front?
RS: Sabia, até porque não tínhamos esse nooomeee assim, ou seja o nosso publico era restrito e sabia da nossa historia. O que atrapalhou nossa trajetória na época, foi ter preferido acompanhar outros artistas, ganhar grana e entrar no circuito de shows e no meio musical e não ter mais tempo pra se dedicar á ralação de continuar uma banda.

TSB: O que acha que faltou ao Front para ser reconhecida como uma grande banda do cenário nacional da época?
RS: Faltou isso...tempo, paciência, perseverança e dedicação. Mais um pouco e certamente estaríamos entre as bandas principais, como hoje provamos individualmente em trabalhos separados, ou até mesmo juntos.

TSB: Logo após o convite de tocar com o Lobão, onde apesar de ter feito sua primeira turnê internacional, foram apedrejados no Rock in Rio. O que passa pela cabeça de um músico nesta hora?
RS: Não fiz turnê, fomos gravar um disco (Sob o Sol de Parador) .No Rock in Rio simplesmente escolhemos o dia errado pra tocar. O publico não era o nosso. Na época foi muito mais comentado a saída da gente do palco, do que os outros shows do dia..revertemos isso em shows!!! Éramos muito unidos.

 TSB: Depois veio o convite do Barão Vermelho. Ali você sentiu que era a sua hora? RS: Senti, era um casamento perfeito! Eles precisavam de mim e eu deles. Sempre fui à cara do Barão e todos me disseram isso quando entrei.Já falei que quando nasci, já seria um Barão, era só uma questão de tempo.

TSB: Nos intervalos do Barão, chegou a gravar com o Kid Abelha, que tem na bateria seu velho amigo de vários trabalhos Kadu Menezes. Qual a importância não só dele, mas também do Jorge Valadão na sua carreira?
 RS: Como falei, tanto Kadu como Valladão fazem parte da minha historia desde o começo. Os dois hoje em dia tocam no Kid e toquei com Kadu em muitos trabalhos. Chamei ele e o Nani pra tocar com Lobão e em contrapartida ele me chamou pro Front e Miquinhos. Na época do Kid, eu era muito ligado a ele e ao George e vice-versa. Tocávamos em vários projetos e eu já havia gravado varias faixas com a galera do Kid.Foi uma nova família e uma grande época também...sou muito agradecido a Paula, ao Bruno e todos eles.

TSB: Falando do Os Britos agora, a idéia é voltar ao esquema “Plug and Play” dos tempos de Saquarema? Saquarema não sei, mas de arraial d’ajuda com certeza!!  RS: Nunca saímos do esquema Plug and Play...a não ser pro: Plug and PRAY !
Vamos fazer muitos shows esse ano, com as férias do Barão e do Kid.

TSB:Ouvindo as vocalizações no Os Britos, sua voz coube perfeitamente tanto nas músicas cantadas pelo Paul, quanto do John. Quando foi que você descobriu que isto? Ou foi surpresa?
RS: É verdade cara...olha....isso é uma coisa que me agradava muito nos Beatles. Tinha um certo período que era difícil dizer se era o John ou o Paul que estava cantando a Lead. Até porque eles cantavam muito em uníssono. Talvez daí eu tenha absorvido a facilidade de cantar as duas vozes.O que os Beatles tinham de harmonização vocal era de uma combinação absurda e o timbre e a região dos três (George Harrison também) era a mesma da minha voz. Gostava de cantar as do George Harrison também...menos as do Ringo!  (Risos)

TSB:De quem foi a idéia do nome? Mas parecido com os Beatles em português impossível!
RS: Foi um infame trocadilho feito no ensaio já nem lembro de quem!

TSB: Chegando enfim na sua carreira solo quando foi que você viu que era a hora de gravar algo só seu?
RS: Esse é o momento perfeito! Cada um tem a sua época, o seu timing, a sua história. Eu ainda não havia feito o meu, pois não achava que era a hora, que não estava preparado e também não estava compondo muito pois estava ocupado demais com álcool e drogas ( que parei há 1 ano e 8 meses). Já tinha varias musicas que na verdade eram colchas de retalhos. Quando parei compus mais de 100 musicas e voltei a escrever letras novamente. Fiz novas parcerias também e consequentemente novos amigos.Zelia Duncan, Leoni, Frejat, Lobão, Guto Goffi, Mauricio Barros e  Mauro Sta Cecília são alguns deles. Se na primeira parada do Barão, eu não fiz o disco é porque não era a hora realmente. Dediquei-me de corpo e alma a esse cd , que tem o titulo de “Um Pouco Mais De Calma” e sairá pela Som Livre em maio de 2007.

Como é o seu trabalho de composição? Quais os principais temas? Como surgem as melodias, riffs e solos? O disco é quase todo autobiográfico, mas escrevo sobre os mais diversos temas que me cercam. Componho muito no violão e algumas musicas saíram direto, letra e musica. Escrevo no avião, em casa,na rua, no táxi, no ônibus, em qualquer lugar e tanto pode começar de uma frase quanto de um sentimento. Posso também começar com uma melodia que fiz e ficou guardada na memória.Não tenho gravador, ou guardo ou não guardo!! Se for boa fica, se não for vai embora...sou bem musical nesse sentido e crítico em relação às letras. Posso mudar tudo também de uma hora pra outra se acho que o recado não está sendo passado. No disco também tem uma parceria inusitada com Herbert de Souza (Betinho) e Mauro Sta Cecília , chamada Carta Pra Nós. É uma adaptação de uma carta que Betinho deixou para a esposa Maria, antes dele falecer e pediu pra ela que lesse só depois do falecimento. É um exemplo de historia de amor e de vida! O titulo original é Carta Pra Maria.

TSB: Seu trabalho nos remete a sonoridade dos anos 80, com refrões melódicos e fáceis de cantar. Você acredita que esta foi realmente a melhor fase do rock nacional?
 RS: Todas as fases são férteis, mas eu absorvi e vivi muito sentimento mágico dessa fase, mas assim com de coisas dos anos 60,70 e 2000. Tenho influencias de U2, Stevie Miller Band, John Cougar Mellencamp, Travelling Wilburys e de Secos e Molhados. De Beatles, de Legião e de Zeca Baleiro. E de Verve, Counting Crows e Bob Dylan/Neil Young (dos anos 2000) . Gosto do que é bom!! Agora...gosto sim de melodias definidas e da canção folclórica irlandesa por exemplo..a musica medieval, os trovadores, musicas de cinema, que envolve e emociona. Gosto muito de melodia, mas também canto falado as vezes e gritado muitas vezes!

TSB: Como está sendo, depois de participar de super produções e mega turnês, fazer um trabalho mais intimista, mais próximo ao público?
RS: Fantástico e super importante. Ali o artista se desenvolve, mostra a sua cara e sua empatia com o publico.E a sensação de começar do zero é indescritível. Todo artista deveria passar por isso anualmente. Acho que o Caetano faz isso muito bem..Os shows que fiz até agora foram muito bons, lotados e de sintonia perfeita entre artista, repertorio e publico. Mas almejo lugares grandes. Gosto de desafios..Com um pouco mais de calma.

 TSB: A banda que atualmente te acompanha é formada só por grandes nomes do cenário carioca. Como foi formar esta super banda e ela é a sua banda definitiva para toda a divulgação do trabalho? O que eles estão achando de tocar em lugares menores também?
RS: Sim, é a minha banda definitiva, as vezes ainda não posso ir com sexteto em algum lugar...aí vai um quarteto. Mas são eles : Kadu Menezes ( produtor do meu disco e do Kid Abelha - bateria) , Fernando Magalhães ( Barão Vermelho – guitarra e violão), Nani Dias ( Britos- guitarra), Humberto Barros ( Kid Abelha, Engenheiros, Lobão e solo...teclados e órgão) e Jorge Valladão ( Kid Abelha – baixo e violão). Estamos todos gostando dessa empreitada e eles estão dando a maior força, visto que nesse inicio ainda não temos a possibilidade financeira ideal. São todos meus amigos de longa data e isso é o mais importante pro meu trabalho ir pra estrada. Não abro mão dessa nossa afinidade pessoal e musical.

 TSB: Seu cd se chama “Um pouco mais de calma”. Recentemente houve aquela barbárie com o João Hélio que te inspirou uma espécie de desabafo em parceria com o George Israel. Você acha mesmo que precisamos ainda manter a calma no Brasil?    RS: Precisamos sim, de muita calma pra não agir no impulso. Mas ao mesmo tempo de pressa pra mudar as leis de impunidade que nos cercam.

TSB: Fale-nos sobre esta composição.
RS: Cidade Partida. Foi feita depois que li a matéria realmente...mas ela fala de como as pessoas estão vivendo. Não adianta se comover com uma catástrofe se na própria casa estão acontecendo coisas debaixo dos narizes das pessoas. Quem bate em criança, em mulher, ou não conversa com os filhos, não dá educação sentimental....isso é violência...que gera violência...e aí, quando vê é tarde demais e o quintal do vizinho fala mais alto...a situação do jornal comove quem não quer olhar a própria contribuição pra isso acontecer. Querem mais respeito, menos violência? Parem de se drogar, de beber, de se destruir, se autoconheçam por exemplo. Dêem exemplo dentro de casa. Parem de fechar seus ouvidos para a reclamação de um filho, ou de se colocar em situações que contribuam pra violência. Seus filhos brigam na rua, andam de carro desembestados, transam sem camisinha? Alguma vez, desde a infância deram atenção, ou carinho pra eles? Ou trataram como idiotas, até incentivando o preconceito, a briga, a violência...Muito hipócrita tudo, as vezes.
       A letra fala sobre isso. E a musica fiz com George Israel numa casa em   Teresópolis, no mesmo dia em que fiz a letra.

TSB: Nos seus shows estão rolando algumas participações especiais como a do João Penca e os Miquinhos Amestrados, que não subiam no palco fazia 14 anos. Como é ser responsável por este reencontro? E tocar com eles hoje em dia te fez voltar aos tempos do Front por alguns minutos?
RS: Fez recordar sim...muito legal! São meus amigos e muito importantes na minha formação, do espírito dos shows, do rock and roll, do plug and play! Meus shows são feitos disso também. De participações de artistas e amigos com que troco ou troquei informações ou historias nesses 25 anos de estrada.

TSB: Quais os próximos passos da divulgação deste cd? E quando ele estará nas lojas? RS: Em Maio, pela Som Livre.Assim, a musica de trabalho deve estar nas rádios em abril. Farei shows de lançamento Brasil afora.
TSB: Quais as principais dificuldades que você acredita encontrar hoje em dia em lançar seu nome como um artista solo, devido a esta crise que o mercado fonográfico anda vivendo?
RS: O artista sempre terá que se preocupar em fazer um bom disco é isso que lhe cabe e realmente o que interessa. O resto é correr atrás e tocar onde for possível...ir abrindo as portas...tem que apresentar um trabalho de qualidade e sempre estar em movimento.

TSB: O site Tosembanda.com, é voltado para formação de novos artistas e para dar espaço para que elas possam se divulgar. Que mensagem Rodrigo Santos com toda sua trajetória vitoriosa daria a quem está começando?
RS: Como estou começando também...e de cara limpa...recomendo muita dedicação e perseverança. Não desperdicem seu tempo com coisas que desviem sua trajetória e façam musica, componham, cantem, toquem o maior tempo possível.Não desistam e não deixem que a vaidade atrapalhe.

TSB: Gostaríamos de agradecer pela entrevista e se tiver algo mais que queira dizer e não tenha sido perguntado a hora é agora.
RS: Façam as pazes com quem tenham brigado há pouco tempo por exemplo. A vida é curta,

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